Homens vão ao médico, sim, mas em uma proporção bem menor que as mulheres. Isso é o que mostram os dados inéditos obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia junto ao Ministério da Saúde. Segundo o Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), de 2016 a 2020, houve um aumento da procura do homem pelo médico de 49,96% — de 425 milhões de atendimentos para 637 milhões.

No entanto, os dados do PNS (Programa Nacional de Saúde) de 2019 mostram que 76,2% da população foi ao médico (cerca de 160 milhões de pessoas), sendo a proporção de mulheres (82,3%) superior à dos homens (69,4%). Ao avaliar os dados por estado e faixa etária, essa diferença de ida ao médico entre homens e mulheres chega a ser maior que o dobro.

O menor acesso à saúde pode ocultar doenças silenciosas. “Dados do IBGE mostram que os homens vivem sete anos a menos que as mulheres, isso é explicado por diversos comportamentos de risco, como a menor adesão às consultas de rotina”, aponta.

A menor ida ao especialista tem contornos culturais, uma vez que desde cedo as meninas são levadas pelas mães ao ginecologista e os meninos, por sua vez, não têm um especialista que os acompanha, ficando com essa ausência até os 50 anos, idade recomendada para se fazer os exames de toque retal e PSA para o diagnóstico precoce do câncer de próstata.

Essa cultura é exemplificada nos dados da SIA por estado e faixa etária. Em Minas Gerais, enquanto 1.439.812 mulheres entre 50 e 54 anos procuraram atendimento médico no ano passado, menos da metade dos homens da mesma faixa etária fez o mesmo, 639.477.

Em São Paulo a diferença proporcional se repete, 2.051.145 de mulheres para 929.939. O mesmo ocorre no Rio de Janeiro, 544.807 mulheres para 251.419 homens, e no Rio Grande do Sul, 726.391 mulheres para 349.834. A proporção de mulheres é sempre um pouco maior que o dobro.

A ida ao médico tem o objetivo não só de diagnosticar doenças, mas também orientar com qualidade sobre prevenção, como por exemplo das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), e incluir o homem no planejamento familiar.

Uma prova disso é que uma pesquisa feita no ano passado pela SBU, com adolescentes masculinos, revelou que 44% não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam ou usam raramente o preservativo nas relações sexuais — 38,57% dos jovens revelaram não saber sequer colocar o preservativo.

Segundo a urologista Karin Jaeger Anzolch, membro da Comissão de Comunicação da SBU, hábitos simples devem ser internalizados e podem fazer muita diferença. “Ensinar uma higiene genital adequada, por exemplo, é algo muito importante. Uma simples atitude como essa não somente melhora a qualidade de vida, autoestima e os relacionamentos interpessoais, como também ajuda a prevenir uma série de problemas futuros, inclusive o câncer de pênis”, alerta.

O câncer de pênis, doença que apresenta inúmeros sinais, ainda faz muitas vítimas. Entre 2019 e 2020, houve 6.174 diagnósticos da doença e 1.092 desses pacientes tiveram o órgão amputado por buscarem tratamento somente em estágio avançado.

Para Roni Fernandes, diretor de comunicação da SBU, é fundamental mudar essa cultura, especialmente através de ações que conversem com o público. “Temos investido no diálogo por meio das redes sociais, com vídeos, textos, podcasts, palestras on-line, entre outros meios. Também estamos elaborando aulas para treinar os médicos da atenção básica de saúde sobre problemas que devem ser encaminhados ao especialista”.

Doenças masculinas
 

Ir ao médico, mesmo que sem sintomas, para avaliações periódicas de saúde é fundamental, uma vez que nem sempre as doenças urológicas mais frequentes têm sintomas, especialmente os cânceres urológicos.

 “Acreditamos que a informação é uma forma de promover saúde, e através de nossas campanhas procuramos sempre alertar as pessoas sobre a necessidade de procurarem seu médico regulamente, e especificamente o urologista no caso dos homens. O aumento da expectativa de vida nos impõe a realidade do envelhecimento, e o conceito de envelhecimento saudável inclui o cuidado com o próprio corpo e a preservação da saúde”, explica o secretário-geral da instituição, Alfredo Canalini.

Algumas doenças mais incidentes são:

Câncer de testículo:
O tumor de testículo corresponde a 5% do total de casos de câncer entre os homens, e entre 2019 e 2020 foram 446 óbitos.

Câncer de próstata:
A cada dia 42 homens morrem em decorrência do câncer de próstata e aproximadamente 3 milhões vivem com a doença, sendo essa a segunda maior causa de morte por câncer em homens no Brasil. São estimados para este ano 65.840 novos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Câncer de pênis:
Em 2019, o Ministério da Saúde informou que 2.193 homens foram diagnosticados com a doença, já em 2020 esse número passou para 1.788, devido à pandemia. Esse é um tumor que afeta sobretudo pessoas acima de 50 anos, no entanto, foram encontrados 322 casos da doença em pacientes entre 12 e 39 anos (2019/2020). Segundo os dados, 47% dos casos são em homens até 59 anos (1.884 casos somando-se 2019 e 2020).

Hiperplasia prostática benigna:
Cerca de 50% dos indivíduos acima de 50 anos terão HPB; aos 90 anos, essa condição afeta cerca de 80% dos pacientes. Entre os sintomas estão: dificuldade de urinar, jato urinário fraco, sensação de que a bexiga não foi completamente esvaziada, aumento do número de idas ao banheiro durante a noite e vontade incontrolável de urinar.

Disfunção erétil:
Estima-se que 100 milhões de homens no mundo apresentem disfunção erétil, sendo esta a mais comum disfunção sexual encontrada nessa população após os 40 anos. No Brasil, a prevalência se aproxima de 50% após os 40 anos, algo em torno de 16 milhões de homens.

Acordo de cooperação

A Sociedade Brasileira de Urologia e o Ministério da Saúde assinaram em maio um acordo de cooperação técnica em prol da saúde do homem. O principal objetivo é o desenvolvimento de ações em conjunto para orientar sobre câncer de pênis, testículo, próstata e bexiga, hiperplasia benigna da próstata, fimose, queixas urinárias, disfunção erétil, vasectomia e ISTs, entre outros.

A SBU vai treinar profissionais da Atenção Primária de Saúde a identificar problemas que devam ser encaminhados ao especialista. O acordo foi assinado pelo ministro da saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente da SBU, Antonio Carlos Pompeo, e tem prazo até 2023.

O diretor do Departamento de Integração Associativa da SBU, Ricardo Vita, explica que “esse acordo é muito importante na atuação primária de prevenção e educação em cinco eixos das doenças urológicas, que serão abordadas através de um processo de educação e informação”.

Fonte: Viva Bem Uol Saúde