Próstata aumentada
Um cuidado que requer atenção!

O crescimento benigno da próstata, popularmente chamado de inchaço da próstata, é uma das doenças mais comuns do ser humano. A grande maioria dos homens, com o passar dos anos e do envelhecimento natural, tende a apresentar um aumento do volume da sua próstata, podendo ou não trazer repercussões à saúde. Essa glândula está presente em todos os homens, com funções importantes de produzir secreções para o espermatozoide. A próstata desenvolve o aumento da sua porção mais interna a partir dos 40 anos de idade.

Com o envelhecimento, a porção mais interna da próstata que circunda o canal da uretra, conhecida como zona de transição, apresenta aumento de volume. Esse aumento pode gerar sintomas urinários pela compressão do canal da uretra que passa por dentro dessa região. Virtualmente, todos os homens que atingirem os 90 ou 100 anos de idade irão apresentar esse crescimento. Fatores genéticos e hormonais masculinos levam à hiperplasia benigna da próstata, então, pouco se pode fazer para evitar que isso realmente aconteça.

A compressão gerada pelo aumento do volume prostático na uretra gera sintomas de esvaziamento da bexiga, e também sintomas de armazenamento de urina, principalmente devido à sobrecarga causada à bexiga com o passar dos anos. Jato urinário fraco, força para urinar, gotejamento ao final da urina, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, micções mais frequentes durante o dia e durante a noite, urgência para urinar e, em casos avançados, até incontinência urinária, são os principais sintomas.

As opções de tratamento incluem medicamentos e procedimentos cirúrgicos, dos menos para os mais invasivos. Existem medicamentos que relaxam a musculatura da saída da bexiga e do canal da uretra, facilitando o jato urinário e a drenagem de urina, e medicamentos que atuam reduzindo o volume da próstata com o passar do tempo. Cada caso deve ser analisado de modo individualizado, para definir a melhor opção de tratamento.

Antigamente, deixava-se para realizar as cirurgias para crescimento benigno da próstata apenas em fases mais avançadas da doença, depois de muitos anos de uso de medicamentos sem resposta adequada, ou quando já ocorriam complicações da doença que levam à descompensação, por vezes irreversível, da musculatura da bexiga. As indicações clássicas, ainda presentes, são:

  • Falha de tratamento medicamentoso;
  • Sangramento prostático de repetição;
  • Infecções urinárias recorrentes;
  • Formação de cálculos urinários dentro da bexiga;
  • Retenção de urina com necessidade de sonda;
  • Insuficiência renal;
  • Sinais de bexiga de esforço em exames de imagem (bexiga de paredes espessadas, com resíduo de urina ou divertículos).

Atualmente, discutimos muito com o paciente a indicação de uma cirurgia mais precoce, buscando preservar a bexiga e o padrão urinário de forma antecipada.

Estudos mostram que operamos pacientes mais idosos e com mais problemas de saúde do que há 20 ou 30 anos, quando ainda não existiam os medicamentos de modo corriqueiro. Além de cirurgias de maior risco nessas situações, protelar o tratamento cirúrgico da hiperplasia prostática benigna pode levar à descompensação irreversível da musculatura da bexiga. Essa última é um órgão muscular, como o coração, e vai espessando com o passar dos anos, para conseguir vencer a obstrução abaixo da bexiga, causada pelo aumento do volume prostático. Caso a bexiga perca essa força de contração, com o passar dos anos e o atraso da indicação de tratamento cirúrgico no melhor momento, a cirurgia pode não ter o resultado esperado pelo paciente, pelo fato da bexiga já não responder bem.

Sinais de descompensação na bexiga em exames de imagem (ultrassonografia ou ressonância magnética) como espessamento das paredes da bexiga, resíduo de urina após a micção ou protrusão prostática intravesical grau iii (acima de 01 cm) já nos levam a conversar com o paciente sobre a cirurgia de modo mais precoce.

Os procedimentos cirúrgicos para a hiperplasia prostática benigna dividem-se em três grupos principais:
  1. Técnicas de ressecção da próstata:
    as mais conhecidas e dentre as mais antigas, popularmente chamadas pelos pacientes de raspagem da próstata. É realizada ressecção do tecido prostático aumentado com alça de energia, removendo boa parte do crescimento benigno. Costuma apresentar taxas de retratamento em 10 anos, por novo crescimento da próstata, entre 10-15%. São realizadas pelo canal da uretra, de modo endoscópico, sem cortes. É utilizada sonda vesical de demora apenas durante o período de internação, na maioria dos casos, de dois dias. São ótimas opções para próstatas que tenham volume de até 80 gramas.
  2. Técnicas de vaporização da próstata:
    foram mais difundidas nos últimos anos. São técnicas que destroem ou vaporizam o tecido prostático, ao invés de ressecá-lo. Utiliza-se, normalmente, um button de plasma ou fibra de laser verde (greenlight). São especialmente indicadas para pacientes com próstatas menores do que 80 a 100 gramas, que usam medicamentos anticoagulantes que não podem ser suspensos. As vaporizações controlam muito bem o sangramento cirúrgico, com o paciente recebendo alta hospitalar na maioria das vezes em 24 horas, sem o uso de sondas. As desvantagens são ardência urinária, que pode perdurar por cerca de 30 dias, e taxas mais elevadas de retratamento cirúrgico. Estudos científicos mostram necessidade de novas operações em 30-40%, em até 03 anos após a primeira cirurgia, já que não se retira tanto tecido como nas outras descritas.
  3. Técnicas de enucleação do tecido prostático:
    são as que apresentam melhor resultado a longo prazo, com taxas de reoperação a longo prazo menores do que 1% nos pacientes tratados, já que são as técnicas que mais retiram o crescimento benigno. Antigamente, dispúnhamos apenas da cirurgia aberta para retirada do crescimento benigno, mas temos tecnologias mais modernas na atualidade. Importante lembrar que são técnicas que retiram apenas o crescimento benigno interno da próstata, sem remover totalmente a próstata do paciente.
  • As cirurgias abertas são cirurgias com corte maior, mais sangramento, maior tempo de internação, pós-operatório mais doloroso, riscos mais elevados de hérnias na ferida operatória, dentre outros. Com as técnicas abertas, o paciente costuma utilizar a sonda na bexiga de 7 a 14 dias no pós-operatório.
  • Enucleação videolaparoscópica ou com auxílio de plataforma robótica: promovem os mesmos resultados da cirurgia aberta, porém com menos complicações, por operarmos através de pequenos orifícios na cavidade abdominal. Principalmente com a cirurgia robótica, temos um tempo de internação menor, menos sangramento, menos dor pós-operatória, recuperação mais rápida, com retorno mais precoce às atividades. Os pacientes costumam usar sonda vesical de 3 a 7 dias após esse tipo de cirurgia. São cirurgias realizadas com anestesia geral, através do abdome do paciente.
  • Enucleações endoscópicas da próstata: são o padrão-ouro para tratamento do crescimento benigno, seja com energia bipolar (bipolep) ou com laser holmium (holep). São cirurgias realizadas pelo canal da uretra, sem cortes para o paciente. Trazem todas as vantagens de procedimentos minimamente invasivos por orifícios naturais, e o paciente costuma receber alta hospitalar no dia seguinte, muitas vezes já sem uso de sonda vesical. Podem trazer uma taxa de incontinência transitória (escape involuntário de urina) em 1 a 5% dos pacientes operados, que costuma resolver-se após 3-6 meses do procedimento cirúrgico.
O mais importante é analisar de modo individualizado cada caso, e discutir com seu urologista de confiança sobre as opções disponíveis de tratamento, com suas vantagens e desvantagens.