Ingestão de líquidos é o suficiente para a prevenção?

Os cálculos urinários são muito prevalentes em nosso país. Estima-se que 10 a 12% da população adulta apresente cálculos nos rins, mesmo sem sentir sintomas.

Vários fatores contribuem para um risco aumentado de formação de cálculos. Existem fatores ambientais, próprios da nossa região, como calor excessivo e umidade reduzida, que contribuem para que o paciente perca mais líquido. A urina concentrada também favorece essa formação dos cálculos urinários.

Existem doenças genéticas que também estão relacionadas a maior risco, bem como histórico familiar também deve ser considerado. Quem tem parentes com pedras nos rins deve ter mais atenção e fazer exames para descobrir se também pode apresentar.

Os cálculos urinários se formam por uma maior concentração de sais na urina. Portanto, alguns hábitos de vida podem estar relacionados a esse processo. Listo aqui os cinco principais:

  • Consumir boa quantidade diária de água, sem contar outros líquidos, como chás, sucos, café. Um consumo recomendado é de 35 ml de água por quilograma de peso. Quanto mais água consumimos, mais diluímos os sais na urina, reduzindo risco de formação das pedras.
  • Reduzir o consumo de sódio, ou sal. Cuidado com ingestão excessiva de alimentos que contenham sódio em demasia, como enlatados, temperos, sal em excesso, refrigerantes. O aumento do sal na urina favorece a formação dos cálculos.
  • Cuidado com consumo excessivo de proteínas (carnes, suplementos proteicos em pó). As proteínas cristalizam mais na urina, aumentando a chance de novas pedras.
  • Aumentar consumo de cítricos na dieta, como laranja, limão, abacaxi, acerola, entre outros. Frutas cítricas contém citrato, que é um fator protetor para reduzir a agregação dos sais na urina.
  • Praticar atividade física de modo regular. Estudos evidenciam que pacientes sedentários formam mais cálculos urinários do que aqueles que realizam atividade física regular.

É comum que os pacientes tenham dúvidas se o cálculo que apresenta necessita de tratamento cirúrgico. Essa decisão depende de alguns fatores, principalmente o tamanho e localização desse cálculo e características próprias do paciente, para que possamos tomar a melhor conduta.

Quando os cálculos estão dentro do rim, nas cavidades urinárias renais que chamamos de cálices renais, não costumam trazer dor ao paciente, a não ser que sejam muito volumosos ou com quadro infeccioso associado. Cálculos renais pequenos, até 7 a 8 mm, costumam não trazer sintomas para o paciente. Quando os cálculos ultrapassam esse tamanho, dentro do rim, existe um risco maior de complicações com o passar dos anos, e nessas situações já indicamos tratamento.

Para cálculos renais de até 02 a 03 centímetros, dependendo do caso e da experiência do cirurgião, indicamos na maioria das vezes a ureterorrenolitotripsia flexível a laser. Esse é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo realizado pelo canal da uretra, ou seja, sem cortes. Introduzimos um aparelho endoscópico até chegarmos às cavidades internas renais e fragmentamos o cálculo com o uso de energia a laser. Quando o paciente apresenta cálculos maiores de 2-3 centímetros, costumamos indicar a nefrolitotripsia percutânea, uma cirurgia também minimamente invasiva, de maior porte, em que acessamos o rim com uma punção e dilatação pela pele da região do flanco ou lombar. Uma vez dentro do rim, fragmentamos o cálculo e os retiramos por esse orifício criado. É um procedimento de maior porte, também com ótimas taxas de sucesso. O mais importante é conversar, sempre, com o seu médico, para avaliar o melhor para cada caso.

Caso o cálculo migre do rim para canal do ureter, que é o canal que drena a urina do rim até a bexiga, o paciente apresenta a cólica renal aguda, quadro que costuma necessitar de analgesia venosa e atendimento de urgência. O paciente sente dor intensa, sudorese, náuseas e vômitos. O quadro pode ou não ser controlado com medicamentos, a depender do tamanho do cálculo e se o paciente apresenta infecção urinária associada. Quando um cálculo de até 05 mm desde pelo canal do ureter, existe uma chance elevada de que o paciente consiga eliminar ele de modo espontâneo, com auxílio de medicamentos. Essa chance diminui com o aumento do tamanho do cálculo. Cálculos acima de 07 mm impactados no ureter raramente são eliminados espontaneamente e costumam ser de indicação cirúrgica de urgência. Os cálculos ureterais também são tratados de modo minimamente invasivo, com aparelhos de endoscopia pelo canal da uretra, sem cortes. Utilizamos os ureteroscópios rígidos ou flexíveis, com auxílio de energia a laser, para fragmentação dos cálculos.

A litíase renal é uma doença muito prevalente, e que necessita de acompanhamento para o resto da vida. Quem já formou um cálculo urinário, mesmo após retirá-lo, tem risco de voltar a desenvolver o quadro novamente. Tenha um urologista de confiança e mantenha sempre o cuidado com a sua saúde!